A Redenção

Ficou sentado ali escrevendo, ofegante, escrevendo, respirando, sentindo, e transpirando, durarante horas a fio. Não olhou que horas eram. Já havia notado que o sol já estava para se por. Sentiu seus músculos doloridos de ficar tanto tempo numa mesma posição. Largou o lápis, empurrou os escritos para o lado e espreguiçou-se. Levou os braços a cima da cabeça, esticou o tronco, estralou os dedos, o pescoço, esticou os braços, e respirou fundo.
Sentiu-se renovado. Ainda estava sobre o efeito das palavras que saíram de dentro. Levantou-se e espreguiçou-se novamente. E como uma redenção, pisou em cima de todos os cacos como se não estivessem lhe cortando. Foi andando em direção à janela e, ao se aproximar, pisou fundo nos cacos, fechou os olhos, e um grito pulou para fora. Respirou fundo.
Debruçado na janela, olhou para baixo e não havia ninguém na rua. Sua visão do décimo quinto andar não era muito favorável ao voyerismo, mas mesmo sob essas condições fez questão de  observar os pontos andantes a baixo.
Sentiu a vida. Encheu o peito de ar. Respirou e inspirou. Tomou fôlego, mergulhou em sua cama. Ficou ali durante minutos olhando para o teto e com os pés machucados para fora da cama. O sangue pingava. Começou a sentir a dor, retorceu os pés, mas não se importou. Ficou ali, quieto, sem nem ao menos lembrar da falta que a voz da Ella fazia. Virou para o lado, acomodou-se nos cobertores, fechou os olhos e dormiu profundamente. Acompanhado da solidão.

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