Cinzeiros Cheios, Copos Vazios

A caixinha está cheia, transbordando emoções, digamos, embaralhadas: "do que serve tudo isso?", "da onde vem tamanha confusão?", "alguém pode me responder o porquê?". Talvez sejam respostas que nunca cheguem até a mim, mas, se quer saber o que mais me irrita eu responderei que é o tempo que perdemos fazendo coisas que achávamos que realmente eram válidas para algo na vida, e de nada nos serviram.
Superlotação, a ponto de negligenciar tantas coisas, e dentre elas o pagamento ao jornaleiro no domingo, a agenda que ainda não comprei, o filme que ainda não assisti, a palavra que ainda não escrevi, e inclusive a que ainda não falei. Estou tentando arranjar algum jeito de apertar a descarga. Mas como? Concentração, respiração, vai, um, dois, um, dois. Ascende um cigarro, toma um gole, respira.
Tão cheio, a ponto de ao mesmo tempo em que escrevo este texto, penso em milhares de coisas sobre as quais poderia escrever e não cabem aqui. Talvez nunca caberão. Ah! Conflitos, para que tê-los? Para quê, Deus? Dizem que repertório é uma coisa importante -sim, concordo, é-. Mas só o é, se é sabido o que fazer com ele. Achamos que tudo não serviu de nada, mas na verdade não fizemos nada com o tudo, e aí, catapuft. Senhora frustração, muito prazer!
Mais uma vez, cá estou, fazendo nada com o que tenho em mãos. Falo, falo, e não chego a nenhum lugar, lugar nenhum. Talvez eu venha desse lugar, 'lugar nenhum', lugar incomum. Que tipo de pessoa se diverte tomando café e lendo um livro? Hã? Oh, Deus, a que mundo pertenço? Só faz quase quinze dias que não saio de casa, e que uso as mesmas roupas e vejo sempre o mesmo lugar. Repudio quando o meu eu-lírico não tão poético assim, se manifesta no meu lugar.